Franz Kafka, in 'Conversas com Kafka'
O texto que segue abaixo, assinado por
Helena Bessa e publicado em 2013, nos remete ao pensamento de que os anos passam,
mas o desentendimento do homem com ele mesmo continua o mesmo.
Ela escreve sobre A
Metamorfose, obra de Franz Kafka - considerado pelos críticos como um dos
escritores mais influentes do século XX. A novela, escrita em 1912 –
publicada em 1915, é assustadora até para a era tecnologicamente avançada, já que um
humano se transforma em uma barata – bicho considerado repugnante para a
maioria dos habitantes da Terra.
Ainda sob efeitos de sua
própria metamorfose, a novela que retrata a história da humanidade continua sem aquele
final feliz tão aguardado. Quando o descaso do Homem com a sua verdadeira essência
e com tudo mais que lhe rodeia terminar, quem sabe esse final chegará muito
antes do esperado.
Antes que 'baratas' tomem definitivamente o lugar dos humanos.
A
METAMORFOSE
“Kafka justamente choca o leitor
com esse fato (essa transformação fantástica), uma vez que ele quer tratar de
algo muito mais chocante, o descaso da família de Gregor perante a sua
debilidade e a preocupação desta com quem iria levar dinheiro para casa, já que
o rapaz havia virado uma barata.”
Helena Bessa
Gregor Samsa: uma
reflexão sobre o homem moderno
Por Helena Bessa
No século XX, na Europa, estava em alta o movimento artístico das Vanguardas Europeias, que foi uma manifestação revolucionária dos conceitos de Literatura e Arte.
Nesta época, estava
ocorrendo a I Guerra Mundial, Revolução Socialista, Belle Èpoque, ou seja, o
mundo estava badalado, cheio de acontecimentos que mudariam a vida das pessoas.
E é nesse período que Franz Kafka insere o livro A Metamorfose, que
expressa por meio da irrealidade uma forte crítica às atitudes humanas daquele
período.
Irrealidade, claro! O
mundo estava de pernas para o ar! Guerra, revoluções, invenções inovadoras,
como o telégrafo sem fio!, o cinema; enfim, o boom industrial se
instalava sobre o mundo, retrato do que iríamos chamar de cultura moderna.
Nesta época, Franz Kafka
apostou em uma história chamada A Metamorfose, onde a questão
abordada é a transformação de um rapaz e as consequências ocorridas ao redor
deste acontecimento.
A novela se utiliza de
elementos fantásticos e reais para comparar algumas situações: Gregor Samsa, o
protagonista, acorda, em uma manhã qualquer, transformado em um inseto, que
mais se aproxima de uma barata. Louco, não? Não!
Kafka justamente choca o
leitor com esse fato (essa transformação fantástica), uma vez que ele quer
tratar de algo muito mais chocante, o descaso da família de Gregor perante a
sua debilidade e a preocupação desta com quem iria levar dinheiro para casa, já
que o rapaz havia virado uma barata.
Como disse o ilustríssimo
Tzevetav Todorov (um filósofo e linguista búlgaro, radicado na França, que se
dedicou ao fantástico e o maravilhoso no mundo literário) no
livro Introdução à Literatura Fantástica: “aquilo que distingue o
“fantástico” narrativo é precisamente uma perplexidade diante de um fato
inacreditável…”
Franz Kafka poderia ter
transformado seu respectivo caixeiro-viajante, Gregor Samsa, em um aleijado,
amputado, ou colocado uma espinha na ponta de seu nariz, o que o traria para um
contexto real, contudo sairia do mix do real e irreal.
Através da transformação,
junto com o desenrolar da estória, o protagonista perde o valor para A
sociedade, visto que perde a capacidade de servir. E esta foi uma boa pauta
para criticar a maneira de pensar do ser humano moderno, que não possui o
mínimo sequer de preocupação com o outro.
Além disso, a obra de
Franz Kafka aponta a desconstrução do modelo ideal familiar diante de uma
situação delicada, visto que Gregor se torna um incômodo para a família, que
agora além de não poder mais contar com a sua ajuda financeira ainda teria que
lhe dar assistência.
Comparando o protagonista,
que sempre serviu e que agora se encontra impossibilitado, com qualquer pessoa
que sempre ajudou e que, por circunstâncias da vida ou do destino, encontra-se
debilitada e sem condições de ajudar, tornando-se, muitas vezes, um incômodo; o
não poder servir torna-se algo deveras triste e solitário.
Fonte: Homo Literatus
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