sexta-feira, 19 de junho de 2015

FRANZ KAFKA - VeRdaDe


A Nossa Verdade

A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruina-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.

Franz Kafka, in 'Conversas com Kafka' 


O texto que segue abaixo, assinado por Helena Bessa e publicado em 2013, nos remete ao pensamento de que os anos passam, mas o desentendimento do homem com ele mesmo continua o mesmo.

Ela escreve sobre A Metamorfose, obra de Franz Kafka - considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX. A novela, escrita em 1912 – publicada em 1915, é assustadora até para a era tecnologicamente avançada, já que um humano se transforma em uma barata – bicho considerado repugnante para a maioria dos habitantes da Terra.

Ainda sob efeitos de sua própria metamorfose, a novela que retrata a história da humanidade continua sem aquele final feliz tão aguardado. Quando o descaso do Homem com a sua verdadeira essência e com tudo mais que lhe rodeia terminar, quem sabe esse final chegará muito antes do esperado. 
Antes que 'baratas' tomem definitivamente o lugar dos humanos.

A METAMORFOSE

“Kafka justamente choca o leitor com esse fato (essa transformação fantástica), uma vez que ele quer tratar de algo muito mais chocante, o descaso da família de Gregor perante a sua debilidade e a preocupação desta com quem iria levar dinheiro para casa, já que o rapaz havia virado uma barata.”
 Helena Bessa



Gregor Samsa: uma reflexão sobre o homem moderno


No século XX, na Europa, estava em alta o movimento artístico das Vanguardas Europeias, que foi uma manifestação revolucionária dos conceitos de Literatura e Arte.

Nesta época, estava ocorrendo a I Guerra Mundial, Revolução Socialista, Belle Èpoque, ou seja, o mundo estava badalado, cheio de acontecimentos que mudariam a vida das pessoas.  E é nesse período que Franz Kafka insere o livro A Metamorfose, que expressa por meio da irrealidade uma forte crítica às atitudes humanas daquele período.
Irrealidade, claro! O mundo estava de pernas para o ar! Guerra, revoluções, invenções inovadoras, como o telégrafo sem fio!, o cinema; enfim, o boom industrial se instalava sobre o mundo, retrato do que iríamos chamar de cultura moderna.

Nesta época, Franz Kafka apostou em uma história chamada  A Metamorfose, onde a questão abordada é a transformação de um rapaz e as consequências ocorridas ao redor deste acontecimento.

A novela se utiliza de elementos fantásticos e reais para comparar algumas situações: Gregor Samsa, o protagonista, acorda, em uma manhã qualquer, transformado em um inseto, que mais se aproxima de uma barata. Louco, não? Não!

Kafka justamente choca o leitor com esse fato (essa transformação fantástica), uma vez que ele quer tratar de algo muito mais chocante, o descaso da família de Gregor perante a sua debilidade e a preocupação desta com quem iria levar dinheiro para casa, já que o rapaz havia virado uma barata.

Como disse o ilustríssimo Tzevetav Todorov (um filósofo e linguista búlgaro, radicado na França, que se dedicou ao fantástico e o maravilhoso no mundo literário) no livro Introdução à Literatura Fantástica: “aquilo que distingue o “fantástico” narrativo é precisamente uma perplexidade diante de um fato inacreditável…”  

Franz Kafka poderia ter transformado seu respectivo caixeiro-viajante, Gregor Samsa, em um aleijado, amputado, ou colocado uma espinha na ponta de seu nariz, o que o traria para um contexto real, contudo sairia do mix do real e irreal.

Através da transformação, junto com o desenrolar da estória, o protagonista perde o valor para A sociedade, visto que perde a capacidade de servir. E esta foi uma boa pauta para criticar a maneira de pensar do ser humano moderno, que não possui o mínimo sequer de preocupação com o outro.

Além disso, a obra de Franz Kafka aponta a desconstrução do modelo ideal familiar diante de uma situação delicada, visto que Gregor se torna um incômodo para a família, que agora além de não poder mais contar com a sua ajuda financeira ainda teria que lhe dar assistência.

Comparando o protagonista, que sempre serviu e que agora se encontra impossibilitado, com qualquer pessoa que sempre ajudou e que, por circunstâncias da vida ou do destino, encontra-se debilitada e sem condições de ajudar, tornando-se, muitas vezes, um incômodo; o não poder servir torna-se algo deveras triste e solitário.


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